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Tim Lopes: morte do jornalista completa 20 anos

Nesta quinta-feira (2), a morte do repórter Tim Lopes completa 20 anos. Ele foi assassinado quando fazia uma reportagem sobre abuso de menores e tráfico de drogas no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Tim foi capturado, torturado e executado por traficantes. A confirmação veio após uma semana do desaparecimento.

Passadas duas décadas, dois dos acusados morreram, entre eles, o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, apontado como chefe do grupo. Outros quatro criminosos estão em liberdade e um está preso.

Tim Lopes tinha mais de 30 anos de carreira quando foi torturado e assassinado, em uma trajetória sempre marcada por uma obsessão: combater a violência, as injustiças e as desigualdades sociais por meio do jornalismo.

Em suas matérias, o repórter assumiu disfarces para denunciar o que estava errado. Ele foi pedreiro para mostrar a dura vida dos canteiros de obras. Fingiu ser dependente químico para revelar irregularidades em clínicas de tratamento. Chegou até a se vestir de Papai Noel para falar do Natal de crianças que não tinham a esperança de receber a visita do Bom Velhinho.

Até hoje, o julgamento dos responsáveis pelo crime é visto como um dos maiores processos do Judiciário fluminense. O processo foi concluído com 13 volumes.

Na manhã desta quinta, o jornalista Bruno Quintella, filho de Tim, fez uma homenagem ao pai em sua rede social. “Metade da minha vida sem você por perto, sem seu abraço, sem ouvir sua gargalhada, sem trocar ideias, sem ir aos jogos do Vasco. É uma saudade que não passa nunca. É uma dor que não vai acabar, mas que tentamos a cada ano — minha família, eu, seus amigos — a lidar com ela”.

Tim Lopes, durante reportagem — Foto: Reprodução

A situação dos condenados

  • Elias Pereira da Silva (Elias Maluco) – Morto em 2020 em uma cela do presídio federal de Catanduvas (PR)
  • Claudino dos Santos Coelho (Xuxa) – Morto em 2013 numa troca de tiros com o Bope.
  • Elizeu Felício de Souza (Zeu) – Está preso no Instituto Penal Vicente Piragibe.
  • Reinaldo Amaral de Jesus (Cadê) – Está em liberdade desde 1º de dezembro de 2017.
  • Fernando Satyro da Silva, o Frei – Está em liberdade de 22 de março de 2017
  • Cláudio Orlando do Nascimento, o Ratinho – Em liberdade desde 17 de dezembro de 2020.
  • Ângelo Ferreira da Silva, Primo – É considerado foragido por crime de roubo desde 2013.

Processo histórico

O g1 conversou com pessoas que estiveram envolvidas nas investigações e condenação dos traficantes responsáveis pelo crime.

Elias Maluco foi preso em setembro de 2002, pouco mais de três meses após comandar a ação de criminosos contra Tim Lopes.

“A gravidade do caso e a forma brutal e desumana como o Tim foi assassinado dá a dimensão do que o processo foi. O jornalista era uma pessoa muito querida e que sofreu um tratamento desumano. Uma violência extrema e que não tem como explicar o que fizeram”, conta o desembargador Fábio Uchôa, então titular do 1º Tribunal do Júri.

O júri que condenou Elias foi formado por cinco mulheres e dois homens. Como o processo foi desmembrado, só o julgamento de Elias Maluco durou cerca de 16h.

“Esse julgamento foi muito tenso mas que trouxe novidades que hoje são usuais como o uso de DNA na identificação de um corpo ou a ação da inteligência policial para levar à prisão do Elias Maluco. Ele foi preso sem que se disparasse um tiro. A repercussão do caso também trouxe para a sociedade o que já ouvíamos em julgamentos mas que o grande público pouco conhecia como o terror praticado pelo tráfico nessas comunidades”, diz a procuradora Patrícia Glioche, uma das duas promotoras que fez o júri do caso.

A investigação

Por três meses, a Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE), da Polícia Civil do Rio esteve mobilizada para encontrar os criminosos responsáveis pela morte do jornalista Tim Lopes.

Durante o período, não faltaram informações falsas, enviadas à delegacia, como a de que Elias Maluco estava escondido em Crateús, no Ceará, vestido de mulher.

A informação foi considerada falsa porque neste momento a polícia já sabia que o traficante estava escondido no interior do Complexo do Alemão e o telefone que utilizava era monitorado pelos investigadores.

Elias Maluco, acusado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes. — Foto: Reprodução/ TV Globo

“As pessoas ligavam para ele (Elias) para dar informação de onde estava a polícia. Na véspera da prisão, um dos informantes dele estava numa casa diante de nós. A conversa foi interceptada e nos ajudou a chegar até o Elias”, contou o comissário Aurílio Nascimento, um dos policiais da DRE na época.

O policial conta que a equipe da DRE chegou a ficar quatro dias ininterruptos dentro da favela na tentativa de descobrir o paradeiro do traficante.

“Era o que tinha que ser feito. O crime nos surpreendeu muito. Como assim eles tiveram a audácia de atacar um jornalista? Ainda mais de forma tão brutal e enquanto ele fazia o trabalho dele. O sentimento na equipe era que tínhamos que dar uma resposta à sociedade”, contou Nascimento.

Elias Maluco foi encontrado morto em 22 de setembro de 2020, em sua cela no presídio federal de Catanduvas, no interior do Paraná. O corpo tinha marcas de enforcamento.

Dia de homenagens

Uma série de eventos, em diferentes pontos da cidade, marcam as homenagens pelos 20 anos da morte do jornalista Tim Lopes.

Às 8h30 haverá uma instalação com fotos de Tim Lopes e texto do jornalista Alexandre Medeiros, na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores do Rio.

Às 10h haverá uma missa no Santuário Cristo Redentor e contará com a presença de amigos e da família.

Às 16h, haverá um ato em homenagem ao jornalista na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em parceria com a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), com a Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji) e com o Sindicato de Jornalistas do Município do Rio de Janeiro.

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