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Prêmio frei Henri de Direitos Humanos é entregue pela OAB XINGUARA

A Ordem dos Advogados do Brasil Subseção Xinguara, realizou nesse sábado, 15, premiação de Direitos Humanos. O evento aconteceu no auditório da entidade.

Logo no início, um vídeo sobre a vida do religioso foi apresentado ao público, mostrando desde a chegada do padre e advogado Henri Burin des Roziers, que era francês, tendo chegado ao Brasil na década de 1970 e como religioso, era da ordem dominicana.

Henri Burin des Roziers

Como advogado, teve atuação no Brasil a partir de 1984, quando obteve registro na OAB GO, e pouco tempo depois foi para o estado do Tocantins e em seguida mudou-se para o estado do Pará, sempre exercendo a advocacia pró-bônus na luta pelos direitos humanos e diretamente ligado aos movimentos dos menos favorecidos.

O prêmio é concedido a pessoas que de alguma forma possuem atuações relacionadas aos direitos humanos, em nível municipal, regional e nacional.

A ideia do prêmio, de acordo com o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB XINGUARA, foi gerada em 2009, por ocasião de uma redação vencedora em âmbito nacional, sendo a partir daquele momento, suscitado a premiação para pessoas que vivenciam em seu cotidiano alguma contribuição na defesa dos direitos humanos.

Em 2016, veio a formalização pelo Conselho da OAB SUBSEÇÃO XINGUARA, pela criação oficial da Ordem, pela premiação tendo frei Henri des Roziers, a denominação do prêmio.

A 3ª Edição concedida nesse ano, teve como contemplados: Leonardo Sakamoto, Padre Amaro, Marisa, para representação nacional, regional e municipal, respectivamente.

O público também pode assistir uma palestra, proferida presencialmente pelo Doutor Paulo Sérgio, que abordou o tema: Regularização Fundiária e Bioteconomia para as Dignidades Coletivas.

Paulo Sérgio

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela USP. É professor de Jornalismo na PUC-SP, presidente da ONG Repórter Brasil, comentarista do Jornal da Cultura e colunista de política do UOL. Foi membro do conselho do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020), em Genebra, e Comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro sobre Escravidão Moderna e Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É o relator do II Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Também foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York. É autor de livros como “Escravidão Contemporânea” (2020). Sakamoto conheceu frei Henri des Roziers em 2001.

Aninha da CPT representando o Leonardo Sakamoto

Padre José Amaro Lopes de Sousa nasceu no dia de São Sebastião, 20 de janeiro de 1967, em Itapecuru Mirim, Estado do Maranhão. A convite do então Bispo da Prelazia do Xingú, Dom Erwin Kräutler, onde conheceu a missionária Norte-amaricana Dorathy Stang.

A atuação do Padre Amaro e da Irmã Dorothy no âmbito da Comissão Pastoral da Terra (CPT) daquela região foi decisiva para formular denúncias de violações de direitos humanos fundamentais, situações de violência contra posseiros, e demandar aos agentes do Estado e órgãos como o INCRA, a regularização e redemocratização do acesso e permanência na terra, e manutenção da floresta como recurso e fonte de vida.

Padre Amaro em nível Regional

Eles, juntos, lutaram pela criação e consolidação do modelo de Assentamento agroextrativista Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS). Essas lutas provaram uma série de ameaças, intimidações e pressões por parte das oligarquias, fazendeiros, forças policiais e políticos de Anapu, que atingiam Dorothy e Amaro, além de outras lideranças populares naquela área.

Sua companheira foi brutalmente assassinada em 12 de fevereiro de 2005, durante o período de reuniões para distribuição dos lotes no PDS Esperança. Padre Amaro que também sofria ameaças não foi assassinado naquele momento, porque participava de uma reunião em outra localidade do Médio Xingu.

A perseguição ao Padre Amaro se intensificou desde então. Ele foi vítima de inúmeras ameaças de morte e tentativas de assassinato, e em março de 2018 foi preso, com base num processo fraudulento, no qual era acusado de estímulo à invasão de terras privadas.

O processo que gerou a prisão imediata do Padre Amaro, por três meses, estava baseado em depoimentos sem provas, no entanto, a prisão foi decretada e ele foi recluso na mesma penitenciária onde estava detido um dos assassinos da Irmã Dorothy. De acordo com os agentes da CPT de Anapu, a morte do Padre foi planejada para ser executada na cadeia, para não configurar morte por conflito fundiário.

Padre Amaro atualmente responde ao processo em liberdade, no entanto, o habeas corpus estabelece diversas restrições, dentre as quais “proibição de frequentar reuniões ou agrupamentos de pessoas”.

Marisa de Fátima Macedo nasceu em Buriti Alegre, Goiás, em 03 de julho de 1961 e mudou-se para Xinguara, Pará, em 1979 com seus pais, que eram agricultores e foram incentivados pela campanha do Governo Federal “Terra sem homens para homens sem terras”. Desde jovem, Marisa participou da pastoral da Juventude e da catequese como catequista na Igreja Católica. Ela foi uma das fundadoras do primeiro Conselho Paroquial e ajudou a criar as primeiras comunidades eclesiais de base da paróquia.

Marisa em nível municipal

Sua carreira profissional começou em 1980 como professora em uma escola particular e em 1981 ingressou na escola pública, tornando-se sócia fundadora do SINTEPP/Xinguara. Marisa lutou pela democratização do ensino e pelos direitos das mulheres do campo e da cidade no Movimento Pró-Constituinte. Cursou magistério no sistema modular LOGOS II e iniciou o curso de Pedagogia na UEPA em Conceição do Araguaia em 1994, onde morou por 15 anos.

Em 1995, Marisa foi convidada a integrar a equipe do MEB-Movimento de Educação de Base, da Pastoral Social da Igreja Católica, com o objetivo de desenvolver um projeto de educação para jovens e adultos nas comunidades periféricas da cidade, onde a taxa de analfabetismo chegava a 70%. Foi durante esse período que ela estreitou sua amizade com Frei Henri, que atuava na CPT-Comissão Pastoral da Terra, uma vez que ambos funcionavam no mesmo prédio.

Atualmente, está cedida à Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC/PA) e atua como técnica pedagógica na 22ª Unidade Regional de Educação (URE), contribuindo para o desenvolvimento de projetos educacionais.

Da redação

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